nOdoa

(nOdoices simples..nada de complicado)

quarta-feira, outubro 03, 2007

só para se ver como é a raça do brasileiro

Hoje (também, que é para se ver o quanto eu sou profícuo em acontecimentos), estava eu sentado nas muralhas do castelo a ler The Long Dark tea-time of the Soul, de Douglas Adams, livro que me foi impingido por ser o único em inglês lá por casa, muito descansadinho de pernas cruzadas e virado para o Danúbio de casaco com o gorro posto por cima das frontes quando oiço uma linguagem estranha. Deslargo o sentido ocular para pegar no auditivo e tento-me aperceber das afirmações feita. Após alguns momentos de esforço em face à sintonização necessária, porque esta terra e especialmente naquele sítio, uma pessoa ouve de tudo, lá decifro um ou outro termo. Um deles era constantemente repetido. Passo a nomeá-lo: babaca. A partir deste, todo o discurso se tornou mais claro. "Esse babaca se senta ali, com todo o mundo querendo tirar foto e ele bem no meio". É mentira que eu estava bem num canto e de onde eu estava pouco ou nada de uma fachada se poderia querer fotografar. Mas turista, já se sabe, quer recordação de tudo, até do cone do gelado, que por certo se vende muito por aqui em sem número de pontos. Eu vai e continuo desapercebido, a topá-los. Olho para cima e vejo dois brasileiros entre os 25 e os 30, um com ar de turista e outro que faz turismo porque sei lá e se queixa de tudo e que estava bem era deitado no seu sofá de lona, lá bem longe onde não bate o sol. É precisamente este que fala que nem sequer tem máquina na mão. "Um banquinho ali..se o babaca se queria sentar que o fizesse lá onde não tapa o resto..bem babaca, hein." O outro sem se importar e a admirar a vista do Danúbio e este encostado à muralha com os braços envoltos como que a queixar-se do frio. Eu, a topá-los, não faço mais nada. Pego nas coisinhas e sento-me no banco. Nisto o gorro cai para trás e eu não ligo. "Olhe só quão babaca ele é, o cara é tão babaca que só tem o cabelo raspado de um lado." "Acho que o cara percebe português" "Qual quê, babaca é o que é!" Nisto, ergo a cabeça e sorrio para os dois. Fico nisto 20 segundos sem eles se aperceberem do fazer, principalmente o que fazia considerações e após tal viro-me para ele e reflicto "Se querias que eu me desviasse, podias ter pedido." Novo momento de indecisão e crispandade. "Aí, cê fala português. Donde você é?" Mantenho a postura e respondo que Portugal. Aí ele faz-me um hang loose e diz "falou". "Há quanto tempo você está cá?" "Uma semana" "Uma semana?! Fazendo o quê?" Como quem insinua que se encontra num buraco do mundo e ainda só cá está há uma hora ou duas. "Pois que estou a estudar" "Estudar?! O quê? Fazendo a faculdade?" "Ora nem mais" "Tem faculdade aqui?! Neste lugar..." "Há e não são poucas" "Quanto tempo vai ficar?!" "Um ano" "Um ano..neste lugar?" "É o que se vê" E eu a ler-lhe nos olhos "Só babaca fica aqui fechado nesta basbaquice durante tanto tempo por sua iniciativa" Vem o outro e pergunta sobre a cidade. Faço umas tantas considerações e ele comenta que de facto isto aqui é bem bonito. O primeiro não se deixa ficar: "bonito mas bem pequenino". E eu penso: "é o que há". Lá se decidem a ir embora com um novo "falou" e hang loose.
Se Portugal no séc. XV fosse socialista, agora não teríamos estes tipos por aqui a falar português.
Mais tarde apareceram uns tipos do Porto mas não me fizeram observações. Entre eles apenas comentaram: "Deve ser um bom sítio para estabelecer negócio" "É, mas talvez um pouco pequeno" Turistas que devem ter acabado o seu curso de Economia e Gestão faz 8 ou 10 anos no ESEG ou algo do género, hoje em dia têm um qualquer cargo numa qualquer empresa da família.