Lençóis Curvados - Cap. I, Argácia, e tu?
Argácia sempre sonhara como quem cata iogurtes, principalmente os naturais. O seu coração era um atum, pronto a ser plantado numa esponja, principalmente das cor-de-rosa. Até que um dia, numa manhã tardia de Outono em que mal amanhecera o sol se prontificou a se ir deitar, pois a noite houvera sido longa e só com a lua ele relaxava (e quem não faz? principalmente na nova), até que um dia (como eu ia dizendo) conheceu Selapino, um jovem em que o bronze não fazia mal nenhum e se mais houvesse, se mais houvesse era mais algum, principalmente se viesse fresco como o chocolate de Verão.
Argácia e Selapino conheceram-se quando Argácia se sentava como em tantos outros dias num banco de jardim mesmo em frente ao seu 7º esq. no 71 da Rua Marcada, jardim que fazia naquele dia um dia que havia sido inaugurado. Poupada, tinha levado, como sempre fazia, o pão do dia anterior para distribuir entre as formigas que por ali passavam esganadas, a quem tão bem saberia o açúcar. Selapino, fiel funcionário dos correios, aproveitara a badalada das dez para fazer a sua segunda pausa matinal, sem contar com o tempo que passou sentado na banheira observando as manchas no tecto somado com o tempo que passara na cama concentrado no tic-tac que um pássaro fazia no seu parapeito e na luz vermelha que irradiava do seu despertador, enquanto se aconchegava no seu cobertor eléctrico que tão bem lhe sabia naquela manhã. Quando o relógio deu a derradeira badalada, Selapino, um grande fã de calções combinados com meia e bota de montanha, entrou no jardim da zona da Rua Marcada pensando onde encontraria um bom “spot” para se acomodar e realizar a sua pausa tão merecida, pois àquela hora ainda trazia o seu saco cheio de papeis endereçados, algo que ainda pesa. Pairando as suas botas pela relva e impressionado com a destreza de mãos de dois velhotes que num banquinho viam quem matava mais moscas (“dois-zero”, dizia um enquanto olhava para o relógio e dizia, “Já passaram duas horas, fim da 1ª parte, intervalo”), foi assim que ouviu pela primeira vez a voz achocolatada de Argácia:
- Ai! Que me mataste o Gil e o Rui!
- Hmm?! – disse o Selapino sem perceber do que falava ela.
- Duas das formiguinhas!
Selapino levantou a sua bota e encontrou na sola duas formigas lutando heroicamente pela sobrevivência. Num gesto nobre, Selapino retira aqueles lutadores da sua sola e devolve-os ao seu lugar. Enternecida, Argácia olha para Selapino que enquanto ia levantando a cabeça olhava pela primeira vez aquela que arrebataria o seu coração. Olharam-se nos olhos, ele descobriu uma pestana no rosto dela; retirou-lha e ela ficou ainda mais enternecida. Os olhos, esses, pareciam fixos uns nos outros, num momento para ambos mágico, em que as nuvens se apresentaram no céu de repente cinzento e em que a voz gritava debilmente: “Olh’á sorte grande, olh’á sorte grande!”, foi rapidamente substituída por outra que gritava violentamente: “Olh’ó chapéu de chuva. É a duas manchas e meia cada, olh’ó chapéu de chuva!”.
Estavam assim apresentados Argácia e Selapino.
Argácia e Selapino conheceram-se quando Argácia se sentava como em tantos outros dias num banco de jardim mesmo em frente ao seu 7º esq. no 71 da Rua Marcada, jardim que fazia naquele dia um dia que havia sido inaugurado. Poupada, tinha levado, como sempre fazia, o pão do dia anterior para distribuir entre as formigas que por ali passavam esganadas, a quem tão bem saberia o açúcar. Selapino, fiel funcionário dos correios, aproveitara a badalada das dez para fazer a sua segunda pausa matinal, sem contar com o tempo que passou sentado na banheira observando as manchas no tecto somado com o tempo que passara na cama concentrado no tic-tac que um pássaro fazia no seu parapeito e na luz vermelha que irradiava do seu despertador, enquanto se aconchegava no seu cobertor eléctrico que tão bem lhe sabia naquela manhã. Quando o relógio deu a derradeira badalada, Selapino, um grande fã de calções combinados com meia e bota de montanha, entrou no jardim da zona da Rua Marcada pensando onde encontraria um bom “spot” para se acomodar e realizar a sua pausa tão merecida, pois àquela hora ainda trazia o seu saco cheio de papeis endereçados, algo que ainda pesa. Pairando as suas botas pela relva e impressionado com a destreza de mãos de dois velhotes que num banquinho viam quem matava mais moscas (“dois-zero”, dizia um enquanto olhava para o relógio e dizia, “Já passaram duas horas, fim da 1ª parte, intervalo”), foi assim que ouviu pela primeira vez a voz achocolatada de Argácia:
- Ai! Que me mataste o Gil e o Rui!
- Hmm?! – disse o Selapino sem perceber do que falava ela.
- Duas das formiguinhas!
Selapino levantou a sua bota e encontrou na sola duas formigas lutando heroicamente pela sobrevivência. Num gesto nobre, Selapino retira aqueles lutadores da sua sola e devolve-os ao seu lugar. Enternecida, Argácia olha para Selapino que enquanto ia levantando a cabeça olhava pela primeira vez aquela que arrebataria o seu coração. Olharam-se nos olhos, ele descobriu uma pestana no rosto dela; retirou-lha e ela ficou ainda mais enternecida. Os olhos, esses, pareciam fixos uns nos outros, num momento para ambos mágico, em que as nuvens se apresentaram no céu de repente cinzento e em que a voz gritava debilmente: “Olh’á sorte grande, olh’á sorte grande!”, foi rapidamente substituída por outra que gritava violentamente: “Olh’ó chapéu de chuva. É a duas manchas e meia cada, olh’ó chapéu de chuva!”.
Estavam assim apresentados Argácia e Selapino.
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